Bem pessoal, eu tinha feito anteontem
uma resposta enorme pra cada comentário e, pra variar, perdi tudo. Desde
então surgiram diversos outros comentários, de forma que acho melhor
fazer uma resposta em forma de artigo tentando englobar os principais
temas abordados nos comentários.
Inicialmente
quero agradecer as palavras de incentivo, tanto daqueles que estão
sempre comentando por aqui (os amigos Henrique, rodpba, I40, InvFin,
Léo, etc.) quanto aos novatos que tomaram vergonha na cara e resolveram
aparecer.
No
geral notei meio que um desânimo com os investimentos em geral. Já vi
posts de outros blogs sobre "investimento" em negócio próprio, cada vez
mais perguntas por aqui sobre lançamento coberto de opções (que não é
pessimo, frise-se, mas inferior ao buy-and-hold, ainda mais no Brasil) e
uma apreensão quanto ao futuro frente a uma inflação alta e uma bolsa
lateralizada.
Vale
lembrar que tivemos outros períodos laterais (1998-2002, foram 5 anos
com retorno nominal de 2% e inflação alta). De fato, nós estamos na pior
sequência nominal de 4 anos, ainda que incompleta (2008-2011) de toda a
história, com 1% a.a. de retorno nominal. O retorno real (que é o que
interessa) certamente está no plano negativo. Não vejo mais aquele
oba-oba de 2007, pessoas dizendo que quem tirasse menos de 5% por mês
era um imbecil, etc. Vejo muita cautela, muita diversificação, muita
gente satisfeita com um yield de 0,7% de um FII.
Cabe aqui ressaltar as palavras do gênio William Bernstein, no livro "The Investor's Manifesto": "A 25-year-old who is actively saving for retirement should get down on his knees and pray for a decades-long, brutal bear market
so that he can accumulate stocks cheaply". O raciocínio dele no livro é
perfeito: as pessoas compram uma ação exclusivamente pelos frutos
(dividendos) presentes e futuros que ela traz, e o fato de uma ação cair
50% não influi em nada nos lucros e dividendos dela. Portanto, para
nós, investidores de longo prazo, quanto mais barato pagarmos por esses
lucros, melhor.
É
óbvio que, no geral, as empresas hoje lucram nominalmente mais do que
em 2007. A conclusão, portanto, é também óbvia: o preço pago pelo lucro
está menor. E isso, para nós em fase de acumulação, é EXCELENTE. Peguem
praticamente qualquer bolsa mundial e vejam o retorno delas por um
período longo de tempo. Em algum momento o retorno tem que acompanhar a
expectativa desse retorno.
Eu
sinceramente não tenho idéia se a bolsa em 2007 estava cara ou se
estava no seu preço normal. O que eu tenho certeza é que, hoje, elas não
estão caras e nem de longe temos uma bolha nas ações. Para mim é o
suficiente.
Além
disso, eu não conheço em toda a história mundial uma bolsa que, no
longo prazo, não tenha sido o método mais eficiente de se investir,
salvo bolhas (EUA 2000 com PL de 45, Japão 1989 com PL de 100). A maior
empresa da bolsa está com PL de 10,5. A segunda maior, 8,5. A maior
parte do meu dinheiro, portanto, continuará em ações.
O
que estamos vendo é um caso clássico de "recency bias": a tendência do
investidor de extrapolar os resultados recentes para o futuro
indefinidamente. Não, o ouro não vai subir eternamente, os imóveis não
vão render 30% ao ano para sempre e a bolsa não irá ter um retorno
nominal de 1% até a sua aposentadoria. Foquem no longo-prazo e naquilo
que é realmente importante:
- O ouro, como toda commodity que nada produz, tende apenas a seguir a inflação.
- A renda fixa não renderá nada além do yield.
- Os imóveis não renderão nada além da inflação + yield dos aluguéis.
- A bolsa não renderá nada além do lucro médio das empresas + inflação.
Cabe aqui retornar à matemática elementar dos juros compostos e relembrar aos esquecidos o poder dos mesmos:
- R$1.000,00 investidos por mês com um rendimento real de 0,5% a.m. (~6%a.a.) valerá 1 milhão daqui a 30 anos. Se o retorno for de 0,66% a.m. (~8% a.a.) você terá 1,5 milhão.
- R$500,00 investidos por mês com um rendimento real de 0,5% a.m. (6%a.a.) valerá 1 milhão daqui a 40 anos. Se o retorno for de 0,66% a.m. (~8% a.a.), você terá 1,7 milhão.
Notem no último exemplo que apenas 15% do valor final é obtido pelos aportes. Os 85% restantes vem dos juros compostos.
A
independência financeira não é uma crença: é um resultado inevitável
preenchidos os requisitos necessários (aportes constantes, tempo). Eu continuarei fazendo meus aportes e esperando pelo inevitável. E você?
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