Pode-se dizer que esses não são filmes muito fáceis e podem,
inevitavelmente, te deixar um pouco pra baixo. Diferente dos romances
tradicionais e das comédias românticas, os filmes que abordam romances realistas
são, em sua grande maioria, dramas sobre vidas cotidianas frente a
situações difíceis e às vezes desagradáveis. Encontramos neles algumas
ou muitas coisas a quais nos relacionamos na vida real e, por essa
razão, podem não ser destinados a todos os públicos ou a qualquer
situação, como aquele encontro romântico com seu par. Por outro lado,
conseguimos fugir dos clichês e acompanhar histórias profundas e
marcantes.
Há exatamente um ano escrevi sobre o tema, mas após perceber que deixei ótimos filmes de fora, senti uma necessidade de abordar novamente o assunto. Esse é um gênero não exatamente novo, mas que tem aparecido com maior frequência na última década. Apesar de não atingir um grande circuito, justamente por ir contra a maioria esmagadora das produções hollywoodianas, eles conseguem demonstrar toda a capacidade dessa arte que é o cinema, em todas as possíveis vertentes.
Com uma tendência a te colocar pra baixo, por tratar da vida real com maior veracidade, esses filmes são o oposto de outras produções mais felizes – e previsíveis. Mas a verdade é que não deveriam, pois os filmes “purpurinados”, enquanto servem de alívio pra uma realidade por vezes já dura o suficiente, podem também te enganar e criar decepções. “Por que eu não encontro meu príncipe/princesa no cavalo branco?” é uma reflexão às vezes bem mais angustiante do que acompanhar uma história sobre relacionamentos que, por mais certos e duradouros que sejam, nem sempre são uma viagem em um mar de rosas.
É por isso que, pensando na contramão dos clichês e da obviedade, seleciono aqui dez filmes que abordam o tema da melhor maneira possível, com roteiros complexos, personagens de múltiplas camadas e, histórias que muitas vezes ressaltam emoções de um jeito visceral e intimista realmente difícil de encontrar em outros gêneros.
Nota: Alguns filmes estão com o título na lista em idioma original; ou por serem ridículos demais na tradução ou para evitar possíveis confusões.
Once ou Apenas Uma Vez é um filme que tem a música não somente como fio condutor, mas que se utiliza dela em cada mínimo aspecto da história. O escolhi para encabeçar essa lista por ser um dos meus filmes favoritos de todos os tempos, independente do gênero.
Em Dublin, na Irlanda, um músico de rua conhece uma imigrante e os dois acabam se aproximando ao reconheceram o talento um do outro. Conforme vão se conhecendo melhor, a difícil realidade de cada personagem é apresentada e, em determinado ponto decidem gravar um álbum, escolhendo outros artistas de rua desconhecidos para se juntarem à dupla.
O filme se destaca principalmente pela sensibilidade e a forma como cada canção tem todo um significado no desenrolar da história. Toda a carga emocional de suas vidas é apresentada em canções sobre o amor sim, mas principalmente pautada em decepções, angústias, medos, arrependimentos e muitos outros sentimentos que atravessam a alma e o coração. É um filme belo e apaixonante, ao mesmo tempo que denso e avassalador.
El mismo amor, la misma lluvia pode ser considerado a “grande estreia comercial” do fabuloso Juan José Campanella, diretor argentino o qual preciso segurar as pontas para não parecer tão xiita. Apesar de ter dirigido algumas produções anteriores, incluindo dois longas, um curta e um documentário, Campanella começa a mostrar aqui ao que veio. O filme aborda a história de Jorge Pellegrini e Laura Ramallo, em uma relação de encontros e desencontros ao longo de quase duas décadas.
Existem sim algumas falhas técnicas no longa, mas que são completamente insignificantes diante da magnitude do elenco, das atuações, dos diálogos e a complexidade da trama. É um filme que pesa o coração, que nos faz refletir sobre o que fazemos com nossas vidas e as oportunidades que encontramos, mas que acima de tudo nos faz torcer por um final feliz após um longo período de sofrimento. Só não sabemos ao certo se alcançaremos tal condição. Uma sugestão: separe lenços de papel.
É impressionante como um longa-metragem que tem apenas dois atores no elenco e um enredo realmente simples, consegue te prender por tanto tempo e com tanta força. Alex e Sergi estão juntos há alguns anos e se deparam com a necessidade de viver à distância, tendo que recorrer à tecnologia e ao amor singelo que sentem um pelo outro para se manterem próximos.
O filme apresenta uma abordagem que vai pelo caminho menos óbvio quando se trata de romance e tecnologia nos dias atuais, podendo ser um pouco mais difícil a identificação do espectador com a história. Ainda assim, ele consegue convencer e abraçar a audiência, quase como um reality show, mostrando o cotidiano do casal e suas alterações ao longo do tempo.
São situações realmente cotidianas e, a fórmula usada no primeiro longa de Carlos Marques-Marcet, embora diferenciada, pode se tornar entediante pela repetição na primeira metade do filme. Mas, se você conseguir passar intacto por esses momentos, será recompensado com um dos encerramentos mais densos e realistas que já pude presenciar numa tela. Em nota, o plano-sequência de 22 minutos que abre o filme é espetacular. Sério. Vinte e dois minutos, sem cortes.
Falando ainda sobre relacionamentos à distância, Loucamente Apaixonados (“Like Crazy”) é um belíssimo exemplo de arte muito bem executada. Estrelado por Anton Yelchin e Felicity Jones – que agora é bem conhecida pelo recente sucesso de “A Teoria de Tudo” – o longa entrega diálogos amplamente improvisados pelos atores, tornando a narrativa muito mais orgânica, natural e convincente, graças é claro, a esses dois grandes talentos e uma direção competente de Drake Doremus, que também teve parte no roteiro.
Uma estudante inglesa se apaixona por um americano durante seu intercâmbio e, quando acabam separados por um problema de visto, precisam lidar com a distância para manter o relacionamento. O enredo pode soar clichê, mas se engana quem pensar assim. O filme trata da paixão entre dois jovens, que ainda estão não somente descobrindo um ao outro, mas também a si mesmos. Ele aborda de maneira bastante contundente uma relação que aparentemente tem tudo para dar certo, mas que é dificultada pelos percalços da vida.
Esse é um filme que, para surpresa geral, teve uma tradução coerente. Dois Lados do Amor é um projeto que surgiu há quase uma década, quando o roteirista e diretor Ned Benson decidiu escrever uma única história sobre separação, do ponto de vista do protagonista Conor Ludlow – no que veio a ser uma das melhores atuações na carreira de James McAvoy, diga-se de passagem.
Acontece que o projeto acabou se tornando dois longas separados, apresentando dois pontos de vista diferentes da mesma história (“Him” e “Her”). O filme em questão aqui, “Them”, é uma reedição do projeto original, destinado a alcançar as salas de cinema com o formato tradicional, sendo mais conciso e menos experimental, mas que não deve em nada à experiência de assistir aos dois filmes separados.
Dois Lados do Amor é um filme inteligente, emocionante, escrito de forma humana e delicada, apresentando atuações incríveis e uma trilha maravilhosa. Mas não é pra qualquer um. Não espere encontrar tudo bem explicado em cada mínimo detalhe, mas sim muitas situações apresentadas de forma subjetiva e aberta a interpretações.
É uma história realista, sobre o drama de um casal e a forma como enfrentam um mesmo problema individualmente, cada um à sua maneira. Mas também é sobre o amor em toda a sua essência, sobre a família e sobre a perda.
Eis um divisor de opiniões. The Romantics, que foi traduzido no Brasil como O Casamento do Meu Ex, não é uma comédia romântica de sessão da tarde, como esse título medonho tenta sugerir. Tampouco se engane pelo elenco. Ele é o total oposto: um filme de certa forma triste e pesado, que nos leva a questionar a indecisão, desonestidade e egoísmo no ser humano.
Prestes a se casar com uma menina mimada, de uma família rica, que nada tem em comum com ele, Tom se encontra na delicada situação de que a melhor amiga da noiva é também sua ex-namorada, Laura. Poderia realmente ser o enredo de uma comédia romântica, exceto se os personagens não possuíssem tantas camadas além do superficial e não carregassem objetivos incertos e obscurecidos. Laura, por exemplo, não é exatamente a melhor amiga de Lila (a noiva) e se encontra numa situação ainda mais complicada que Tom, o que vai sendo revelado aos poucos.
Não sei ao certo os motivos, mas as opiniões do público são bastante discordantes sobre o filme, tendendo mais ao negativo. Mas não, não é um filme ruim.
The Romantics não é o típico filme americano e aborda um tema aparentemente previsível de forma bastante particular. Ele traz personagens distintos, cada um com sua história de fundo, mas que se conectam de alguma forma, ainda que subjetivamente. Por não apresentar exatamente um começo, nem um fim conclusivo, o filme exige um pouco mais da capacidade de interpretação do espectador. Os diálogos são simples e intimistas, mas bem escritos. Está longe de ser um filme fantástico e não chega a impactar, mas por abordar não somente um romance mais calçado na realidade, como todas as relações interpessoais de uma forma mais humana, consegue figurar essa lista e é indicado a quem procura algo diferente do convencional.
Esse definitivamente não é um filme indicado para todas as audiências. E se você for corajoso(a) o suficiente para seguir adiante, vai se deparar com uma história altamente incisiva, porém gratificante. Me recuso a falar dele como Namorados Para Sempre (título em português para “Blue Valentine”), simplesmente por ir totalmente contra a premissa do filme. Bom, de repente ele seja válido se você não levá-lo ao pé da letra, mas sim como ironia.
Dean e Cindy estão vivenciando uma crise no casamento e, através de uma narrativa não-linear, participamos da mudança no relacionamento, desde o início do namoro até a fase atual. Desse pano de fundo somos levados às brigas e tentativas de reconciliação, intercalando entre os momentos bons do passado e as atuais dificuldades. É um filme um pouco perturbador, mas que traz nas incríveis atuações de Ryan Gosling e Michelle Williams tudo aquilo que NÃO queremos que aconteça em nossos relacionamentos.
Alabama Monroe ou The Broken Circle Breakdown é um filme belga indicado ao Oscar de melhor filme estrangeiro em 2013. E não foi à toa. Se existe algo que os cineastas belgas sabem fazer bem, é comover. Acredite quando digo que, todo o desconforto que ele proporciona, é uma coisa boa! Ótima, na verdade.
Usando a mesma técnica do filme anterior, com uma narrativa não-linear, a história aborda a relação de um casal que se apaixona, mesmo com suas diferenças, e, apesar de todo o amor, uma família construída e um lar aparentemente confortável, precisa enfrentar os problemas que a vida lança sobre eles.
Os personagens são levados a extremos, evidenciando que quando há duas pessoas envolvidas em uma relação, não há como premeditar ou controlar as reações do outro diante de determinados acontecimentos ou mudanças. A obra ainda traz uma fotografia de tirar o fôlego, munida de uma bela trilha sonora e atuações espetaculares. É um dos filmes obrigatórios dessa lista.
Entre o Amor e a Paixão (“Take This Waltz”), que conseguiu algumas críticas positivas na época de sua estreia, é o segundo longa de Sarah Polley na cadeira de diretora, estrelado por Seth Rogen (em um papel dramático pela primeira vez) e Michelle Williams. Particularmente, achei a direção meio perdida e senti uma grande falta de convicção nos personagens. Apesar de tudo, é um filme curioso, que tem seus bons momentos.
Quando Margot, há alguns anos em um casamento aparentemente saudável, se apaixona pelo misterioso e diferente vizinho, começa a ter dúvidas sobre sua atual vida de casada. Dividida entre a estabilidade, a segurança e o amor conquistado durante uma longa relação, e a encantadora promessa do “novo”, sob os aspectos excitantes e perigosos de um possível affair, a protagonista pouco a pouco perde o controle sobre o furor da paixão e seus desejos.
É interessante a abordagem do filme, que conversa entre outras coisas sobre o comodismo e a aceitação/validade da rotina em uma relação de longa data. Porém, ele não consegue emocionar e os personagens não comovem. Apesar dos pesares, existe uma cena, já quase no fim, que merece ser ovacionada. Em tal plano ocorre uma semi conclusão da história de uma forma incrível, que eu gostaria muito de compartilhar, mas não irei estragar sua experiência. Não é um filme fenomenal, mas vale colocá-lo na fila.
Com sua narrativa extremamente realista, mostrando os variados altos e baixos de um relacionamento, além de ser calçada inteiramente em longos e incríveis diálogos, a trilogia composta por “Antes do Amanhecer” (1995), “Antes do Pôr-do-Sol” (2004) e “Antes da Meia-noite” (2013) é uma experiência obrigatória para qualquer fã de cinema.
São situações por vezes cotidianas, outras que desejamos nos encontrar em algum momento da vida. É uma história de amor que passa por dificuldades, como todas as relações reais e que não necessariamente precisa ser perfeita para ser uma bela história. Ainda assim, esses três filmes conseguem suprir um ar de esperança, mesmo que às vezes fraco ou tardio. Eles nos fazem rever conceitos e suspirar por possíveis alegrias, mesmo quando há algumas pedras a serem tiradas do caminho primeiro. Três favoritos pra vida, que posso sugerir em todas as ocasiões.
Fonte: Rafael Gringo / Afronte
Há exatamente um ano escrevi sobre o tema, mas após perceber que deixei ótimos filmes de fora, senti uma necessidade de abordar novamente o assunto. Esse é um gênero não exatamente novo, mas que tem aparecido com maior frequência na última década. Apesar de não atingir um grande circuito, justamente por ir contra a maioria esmagadora das produções hollywoodianas, eles conseguem demonstrar toda a capacidade dessa arte que é o cinema, em todas as possíveis vertentes.
Com uma tendência a te colocar pra baixo, por tratar da vida real com maior veracidade, esses filmes são o oposto de outras produções mais felizes – e previsíveis. Mas a verdade é que não deveriam, pois os filmes “purpurinados”, enquanto servem de alívio pra uma realidade por vezes já dura o suficiente, podem também te enganar e criar decepções. “Por que eu não encontro meu príncipe/princesa no cavalo branco?” é uma reflexão às vezes bem mais angustiante do que acompanhar uma história sobre relacionamentos que, por mais certos e duradouros que sejam, nem sempre são uma viagem em um mar de rosas.
É por isso que, pensando na contramão dos clichês e da obviedade, seleciono aqui dez filmes que abordam o tema da melhor maneira possível, com roteiros complexos, personagens de múltiplas camadas e, histórias que muitas vezes ressaltam emoções de um jeito visceral e intimista realmente difícil de encontrar em outros gêneros.
Nota: Alguns filmes estão com o título na lista em idioma original; ou por serem ridículos demais na tradução ou para evitar possíveis confusões.
1. Once – Apenas Uma Vez
País: Irlanda | Ano: 2006 | Diretor: John CarneyOnce ou Apenas Uma Vez é um filme que tem a música não somente como fio condutor, mas que se utiliza dela em cada mínimo aspecto da história. O escolhi para encabeçar essa lista por ser um dos meus filmes favoritos de todos os tempos, independente do gênero.
Em Dublin, na Irlanda, um músico de rua conhece uma imigrante e os dois acabam se aproximando ao reconheceram o talento um do outro. Conforme vão se conhecendo melhor, a difícil realidade de cada personagem é apresentada e, em determinado ponto decidem gravar um álbum, escolhendo outros artistas de rua desconhecidos para se juntarem à dupla.
O filme se destaca principalmente pela sensibilidade e a forma como cada canção tem todo um significado no desenrolar da história. Toda a carga emocional de suas vidas é apresentada em canções sobre o amor sim, mas principalmente pautada em decepções, angústias, medos, arrependimentos e muitos outros sentimentos que atravessam a alma e o coração. É um filme belo e apaixonante, ao mesmo tempo que denso e avassalador.
2. O Mesmo Amor, a Mesma Chuva
País: Argentina | Ano: 1999 | Diretor: Juan José CampanellaEl mismo amor, la misma lluvia pode ser considerado a “grande estreia comercial” do fabuloso Juan José Campanella, diretor argentino o qual preciso segurar as pontas para não parecer tão xiita. Apesar de ter dirigido algumas produções anteriores, incluindo dois longas, um curta e um documentário, Campanella começa a mostrar aqui ao que veio. O filme aborda a história de Jorge Pellegrini e Laura Ramallo, em uma relação de encontros e desencontros ao longo de quase duas décadas.
Existem sim algumas falhas técnicas no longa, mas que são completamente insignificantes diante da magnitude do elenco, das atuações, dos diálogos e a complexidade da trama. É um filme que pesa o coração, que nos faz refletir sobre o que fazemos com nossas vidas e as oportunidades que encontramos, mas que acima de tudo nos faz torcer por um final feliz após um longo período de sofrimento. Só não sabemos ao certo se alcançaremos tal condição. Uma sugestão: separe lenços de papel.
3. 10,000 Km
País: Espanha | Ano: 2014 | Diretor: Carlos Marques-MarcetÉ impressionante como um longa-metragem que tem apenas dois atores no elenco e um enredo realmente simples, consegue te prender por tanto tempo e com tanta força. Alex e Sergi estão juntos há alguns anos e se deparam com a necessidade de viver à distância, tendo que recorrer à tecnologia e ao amor singelo que sentem um pelo outro para se manterem próximos.
O filme apresenta uma abordagem que vai pelo caminho menos óbvio quando se trata de romance e tecnologia nos dias atuais, podendo ser um pouco mais difícil a identificação do espectador com a história. Ainda assim, ele consegue convencer e abraçar a audiência, quase como um reality show, mostrando o cotidiano do casal e suas alterações ao longo do tempo.
São situações realmente cotidianas e, a fórmula usada no primeiro longa de Carlos Marques-Marcet, embora diferenciada, pode se tornar entediante pela repetição na primeira metade do filme. Mas, se você conseguir passar intacto por esses momentos, será recompensado com um dos encerramentos mais densos e realistas que já pude presenciar numa tela. Em nota, o plano-sequência de 22 minutos que abre o filme é espetacular. Sério. Vinte e dois minutos, sem cortes.
4. Loucamente Apaixonados
País: EUA | Ano: 2011 | Diretor: Drake DoremusFalando ainda sobre relacionamentos à distância, Loucamente Apaixonados (“Like Crazy”) é um belíssimo exemplo de arte muito bem executada. Estrelado por Anton Yelchin e Felicity Jones – que agora é bem conhecida pelo recente sucesso de “A Teoria de Tudo” – o longa entrega diálogos amplamente improvisados pelos atores, tornando a narrativa muito mais orgânica, natural e convincente, graças é claro, a esses dois grandes talentos e uma direção competente de Drake Doremus, que também teve parte no roteiro.
Uma estudante inglesa se apaixona por um americano durante seu intercâmbio e, quando acabam separados por um problema de visto, precisam lidar com a distância para manter o relacionamento. O enredo pode soar clichê, mas se engana quem pensar assim. O filme trata da paixão entre dois jovens, que ainda estão não somente descobrindo um ao outro, mas também a si mesmos. Ele aborda de maneira bastante contundente uma relação que aparentemente tem tudo para dar certo, mas que é dificultada pelos percalços da vida.
5. The Disappearance of Eleanor Rigby: Them
País: EUA | Ano: 2014 | Diretor: Ned BensonEsse é um filme que, para surpresa geral, teve uma tradução coerente. Dois Lados do Amor é um projeto que surgiu há quase uma década, quando o roteirista e diretor Ned Benson decidiu escrever uma única história sobre separação, do ponto de vista do protagonista Conor Ludlow – no que veio a ser uma das melhores atuações na carreira de James McAvoy, diga-se de passagem.
Acontece que o projeto acabou se tornando dois longas separados, apresentando dois pontos de vista diferentes da mesma história (“Him” e “Her”). O filme em questão aqui, “Them”, é uma reedição do projeto original, destinado a alcançar as salas de cinema com o formato tradicional, sendo mais conciso e menos experimental, mas que não deve em nada à experiência de assistir aos dois filmes separados.
Dois Lados do Amor é um filme inteligente, emocionante, escrito de forma humana e delicada, apresentando atuações incríveis e uma trilha maravilhosa. Mas não é pra qualquer um. Não espere encontrar tudo bem explicado em cada mínimo detalhe, mas sim muitas situações apresentadas de forma subjetiva e aberta a interpretações.
É uma história realista, sobre o drama de um casal e a forma como enfrentam um mesmo problema individualmente, cada um à sua maneira. Mas também é sobre o amor em toda a sua essência, sobre a família e sobre a perda.
6. The Romantics
País: EUA | Ano: 2010 | Diretora: Galt NiederhofferEis um divisor de opiniões. The Romantics, que foi traduzido no Brasil como O Casamento do Meu Ex, não é uma comédia romântica de sessão da tarde, como esse título medonho tenta sugerir. Tampouco se engane pelo elenco. Ele é o total oposto: um filme de certa forma triste e pesado, que nos leva a questionar a indecisão, desonestidade e egoísmo no ser humano.
Prestes a se casar com uma menina mimada, de uma família rica, que nada tem em comum com ele, Tom se encontra na delicada situação de que a melhor amiga da noiva é também sua ex-namorada, Laura. Poderia realmente ser o enredo de uma comédia romântica, exceto se os personagens não possuíssem tantas camadas além do superficial e não carregassem objetivos incertos e obscurecidos. Laura, por exemplo, não é exatamente a melhor amiga de Lila (a noiva) e se encontra numa situação ainda mais complicada que Tom, o que vai sendo revelado aos poucos.
Não sei ao certo os motivos, mas as opiniões do público são bastante discordantes sobre o filme, tendendo mais ao negativo. Mas não, não é um filme ruim.
The Romantics não é o típico filme americano e aborda um tema aparentemente previsível de forma bastante particular. Ele traz personagens distintos, cada um com sua história de fundo, mas que se conectam de alguma forma, ainda que subjetivamente. Por não apresentar exatamente um começo, nem um fim conclusivo, o filme exige um pouco mais da capacidade de interpretação do espectador. Os diálogos são simples e intimistas, mas bem escritos. Está longe de ser um filme fantástico e não chega a impactar, mas por abordar não somente um romance mais calçado na realidade, como todas as relações interpessoais de uma forma mais humana, consegue figurar essa lista e é indicado a quem procura algo diferente do convencional.
7. Blue Valentine
País: EUA | Ano: 2010 | Diretor: Derek CianfranceEsse definitivamente não é um filme indicado para todas as audiências. E se você for corajoso(a) o suficiente para seguir adiante, vai se deparar com uma história altamente incisiva, porém gratificante. Me recuso a falar dele como Namorados Para Sempre (título em português para “Blue Valentine”), simplesmente por ir totalmente contra a premissa do filme. Bom, de repente ele seja válido se você não levá-lo ao pé da letra, mas sim como ironia.
Dean e Cindy estão vivenciando uma crise no casamento e, através de uma narrativa não-linear, participamos da mudança no relacionamento, desde o início do namoro até a fase atual. Desse pano de fundo somos levados às brigas e tentativas de reconciliação, intercalando entre os momentos bons do passado e as atuais dificuldades. É um filme um pouco perturbador, mas que traz nas incríveis atuações de Ryan Gosling e Michelle Williams tudo aquilo que NÃO queremos que aconteça em nossos relacionamentos.
8. Alabama Monroe
País: Bélgica | Ano: 2012 | Diretor: Felix van GroeningenAlabama Monroe ou The Broken Circle Breakdown é um filme belga indicado ao Oscar de melhor filme estrangeiro em 2013. E não foi à toa. Se existe algo que os cineastas belgas sabem fazer bem, é comover. Acredite quando digo que, todo o desconforto que ele proporciona, é uma coisa boa! Ótima, na verdade.
Usando a mesma técnica do filme anterior, com uma narrativa não-linear, a história aborda a relação de um casal que se apaixona, mesmo com suas diferenças, e, apesar de todo o amor, uma família construída e um lar aparentemente confortável, precisa enfrentar os problemas que a vida lança sobre eles.
Os personagens são levados a extremos, evidenciando que quando há duas pessoas envolvidas em uma relação, não há como premeditar ou controlar as reações do outro diante de determinados acontecimentos ou mudanças. A obra ainda traz uma fotografia de tirar o fôlego, munida de uma bela trilha sonora e atuações espetaculares. É um dos filmes obrigatórios dessa lista.
9. Take This Waltz
País: EUA | Ano: 2011 | Diretora: Sarah PolleyEntre o Amor e a Paixão (“Take This Waltz”), que conseguiu algumas críticas positivas na época de sua estreia, é o segundo longa de Sarah Polley na cadeira de diretora, estrelado por Seth Rogen (em um papel dramático pela primeira vez) e Michelle Williams. Particularmente, achei a direção meio perdida e senti uma grande falta de convicção nos personagens. Apesar de tudo, é um filme curioso, que tem seus bons momentos.
Quando Margot, há alguns anos em um casamento aparentemente saudável, se apaixona pelo misterioso e diferente vizinho, começa a ter dúvidas sobre sua atual vida de casada. Dividida entre a estabilidade, a segurança e o amor conquistado durante uma longa relação, e a encantadora promessa do “novo”, sob os aspectos excitantes e perigosos de um possível affair, a protagonista pouco a pouco perde o controle sobre o furor da paixão e seus desejos.
É interessante a abordagem do filme, que conversa entre outras coisas sobre o comodismo e a aceitação/validade da rotina em uma relação de longa data. Porém, ele não consegue emocionar e os personagens não comovem. Apesar dos pesares, existe uma cena, já quase no fim, que merece ser ovacionada. Em tal plano ocorre uma semi conclusão da história de uma forma incrível, que eu gostaria muito de compartilhar, mas não irei estragar sua experiência. Não é um filme fenomenal, mas vale colocá-lo na fila.
10. “Trilogia do Antes”
País: EUA | Ano: 1995-2013 | Diretor: Richard LinklaterCom sua narrativa extremamente realista, mostrando os variados altos e baixos de um relacionamento, além de ser calçada inteiramente em longos e incríveis diálogos, a trilogia composta por “Antes do Amanhecer” (1995), “Antes do Pôr-do-Sol” (2004) e “Antes da Meia-noite” (2013) é uma experiência obrigatória para qualquer fã de cinema.
São situações por vezes cotidianas, outras que desejamos nos encontrar em algum momento da vida. É uma história de amor que passa por dificuldades, como todas as relações reais e que não necessariamente precisa ser perfeita para ser uma bela história. Ainda assim, esses três filmes conseguem suprir um ar de esperança, mesmo que às vezes fraco ou tardio. Eles nos fazem rever conceitos e suspirar por possíveis alegrias, mesmo quando há algumas pedras a serem tiradas do caminho primeiro. Três favoritos pra vida, que posso sugerir em todas as ocasiões.
Fonte: Rafael Gringo / Afronte
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